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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

MARAVISTA


(ou Soneto a milhas)
a C.E.S.C.

São quatro mil cento e catorze milhas.
Mas ainda aparta-nos oceano m’or
Que este – o entre as breves trasladadas ilhas
P’ra onde surfamos, a ligeiros nós.

Eu que gabava-me de um ego astuto,
Dou-me – estulta! – a esse tal salvo-conduto…
Submerjo-me então em deslizantes fluidos
Que a mil mares abertos vão confluídos

Pois a singrar, sem leme e sem colete,
(como arriscasse em trapézio sem rede)
Lastimo-me de lúgubre destino:

– Nunca interessa-me esse desatino!
(Mas em minha confidência recôndita
Por essa insânia anseio. Vezes sem conta…)

 15/01/2019

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

TFM versão 2018 (ou Ode à Conivência)


TFM versão 2018 (ou Ode à Conivência)


Não! Não diga nada!
         Não fale nada!
         Abaixe o tom
Aqui não há discussões, se lembra?
        Cruze as pernas,
        Puxe a saia.

Política (vetada!)
Gênero (negado!)
O neto surdo (não vale!)
O outro indolente (acate!)
O marido infiel (se cale!)
Os vários bastados (não cabem!)
Ao pai irresponsável (um afago!)
O cunhado no carro importado
Assedia uma puta (abonado!)

E diuturnamente
Tapam com esparadrapos
Escaras tão grandes
Quanto corações sangrados

Cobrem boca, ouvidos e olhos

Te julgam primeiro,
Mas não se julgam.
Culpam a vítima do escárnio,
Cumprimentam seus algozes
(ou os toleram, não sei o pior)

E na convivência amena
Nas trocas de mimos e agrados
Lhes falta o que mais ostentam:
o laço

E, não por ignorância,
mas pelo pacto,
Pelo acordo tácito
(que carcome por dentro infinito
feito um cupim faminto)
E seguem a orar
celebrar
brindar
(em taças de plástico
para que não se quebrem ao toque)

Em nome da moral
da tradição
da boa convivência
da boa vizinhança
Conjuga-se ali o não-verbo
                        de não-ação
Cognominado conivência
O maravilhoso indulto da conivência…

Não obstante, a conivência comete crimes
Graves, bárbaros, capitais:
Morre se de câncer naquele lugar;
Câncer de pulmão
Pela poeira guardada embaixo dos seus tapetes;
Câncer de estômago
Pelos sapos que se são obrigados a engolir;
Câncer no cérebro
Pela culpa que lhes acomete
Em momentos raros, mas não menos letais.

E, claro, são unidos
               são cúmplices
Tiram uma foto.

Chega a ser
   quase
comovente…

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Dona Zita e os presentes mais caros

Dona Zita e os presentes mais caros

Dedicado, com um abraço saudoso, aos meus queridos amigos
Gracinha, Rosane e Emílio.


Fazer brigadeiro lá em casa é mais ou menos como fazer felicidade no microondas!

É só o cheirinho se espalhar pela casa, e já três carinhas felizes (e gulosas) aparecem ansiosas para provar – para criança, alegria

e doce são praticamente sinônimos!

E, toda vez que eu faço brigadeiro, eu me lembro da Dona Zita.

Dona Zita nunca me fez brigadeiro, mas me deu a vasilha, na qual eu faço a guloseima, de presente de casamento.

Dona Zita era a vizinha da minha avó e, quando eu era criança, passava boa parte da minha vida no quintal da casa dela, brincando com sua filha (que me chamava – com o olhar – por sobre o muro):

- Vó, posso brincar com a Gracinha? – vovó quase sempre deixava.

Naquela casa não tinha o cheiro do brigadeiro, mas tinha o cheiro da árvore de mexerica – Gracinha tinha a chave – a chave que abria o portão do quintal da árvore, que também abria as portas da nossa imaginação.

Naquela casa tinha um livro de figuras o qual a gente folheava e fingia ser a princesa mais linda, que morava no castelo mais alto:

-       Eu sou essa! – resolvia eu.
-       Eu sou essa! – Gracinha deliberava.

Dona Zita também me deu uma boneca de papelão, daquelas que a gente recortava a boneca e as roupinhas. E fazíamos combinações infinitas. Praticamente um curso de moda. Ali, com aquela boneca de papelão.

Dona Zita ajudava na igreja, e colocava a gente pra vestir de anjo na coroação em maio – comecei a cantar assim – primeiro colocando a palma, ano seguinte o véu, e enfim a coroa, e assim a gente ia subindo os degraus do altar, e da vida.


Engraçado que já ganhei presentes que custaram muito – roupas diversas, perfumes importados, e joias. Mas os presentes que Dona Zita ofereceu a mim, com a riqueza que lhe era peculiar, foram os mais caros: a boneca de roupinhas infinitas, o álbum que cabia todos os sonhos do mundo, a tigela de fazer felicidade no microondas e… o cheiro de parte feliz da minha infância.


sábado, 13 de setembro de 2014

Ecuatorial

Ni era la luna
(quizás su destello)
Ni tampoco la música
(quizás su murmullo)

Ni el viento que orquestó las hojas
(y melodías de grillos y cigarras)
Tampoco era el sol -
Éste se quedó entre las nubes
Por más que el debido tiempo.

Lo que su ojo vio
Lo que la retina imprimió

Ella atisbó el mar ...
Pero el mar era ella

Y – aunque por un lapso –
Anheló ser puerto

(a A.M.L.R)

LS - 11/09/2014


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Se você pedisse


Se você pedisse
(E não como requeresse)
Mas como se deliberasse

Com o arbítrio de um juiz
Com a coação de um advogado
Com a súplica de um réu

Com o rogo de um crente
Com a resolução de um profeta
Com o capricho de um deus
(Ah! Se você pedisse!)

Se você pedisse
(E não como mendigasse)
Mas como se implorasse

Com o apetite de um faminto
Com o corpo de um pedinte
Com a esperança de um moribundo

Com a fidelidade de um cão
Com a sede de um camelo
Com a liberdade de um pássaro
(Ah! Se você pedisse!)

Se você pedisse
(E não como solicitasse)
Mas como se exigisse

Com a curiosidade de um aprendiz
Com a avidez de um professor
Com a pretensão de um ignorante

Com a fantasia de uma criança
Com o impulso de um adolescente
Com a energia de um jovem
(Ah! Se você pedisse!)

Se você pedisse
(E não como reclamasse)
Mas como se desafiasse

Com a disposição de um atleta
Com a determinação de um guerreiro
Com a serenidade de um sábio

Com a urgência de um virgem
Com a perseverança de um sóbrio
Com a diligência de um manifestante
(Ah! Se você pedisse!)

Se você pedisse
(E não como estipulasse)
Mas como se reivindicasse

Com o empenho de um pai
Com o zelo de uma mãe
Com a fortaleza de um mártir

Com a boca de um poeta
Com o ouvido de um músico
Com a alma de um artista
(Ah! Se você pedisse!)

Se você pedisse
Se você chamasse
Se você invocasse

Com o desejo de um diletante
Com a promessa de um enamorado
Com a palavra de um amante

Se você pedisse...

Ah! Eu iria.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

About Wisdom


For T. and the others who could not

        I can suit the prettiest dress
and I can look my very best
and I can charm you in a cast
        (you cannot see me
and I can understand)
        I can compose music and lyric
and I can sing you a melody
and I can wail exhaustively
        (you cannot hear me
and I can understand)
         I can easily scribble a poem
and I can write you an impeccable sonnet
and I can, at times, feel despondent
        (you cannot read me
and I can understand)
        I can radiate my thoughtfulness
and I can profuse my excellence
and I can be my very greatest
        (you cannot love me
and I can understand)

For each one can only share what they own
(and not what one merits)

For each one can only give what they possess
(and not what one deserves)


Either way.