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Just getting better...

quarta-feira, 26 de março de 2014

Sobre aquela música...

Acabou-se nossa partitura em bequadro: a partir de agora, em nosso andamento, entre constantes bemóis e raros sustenidos, nossas notas serão sempre acidentadas...

sexta-feira, 14 de março de 2014

De quando eu resolvi ser doida do lado contrário…


Um dia minha tia displicentemente me disse que ela era doida do lado certo e eu,  doida do lado contrário.

E foi assim… eu a doida do lado contrário, e ela a doida do lado certo (pelo menos antes de lhe abrirem a cabeça com um serrote, espero que tenham-lhe feito alguma alteração na ocasião).

E a partir daí eu me assumi assim: ser doida do lado contrário.

Ser uma doida do lado contrário dói um pouco às vezes, dói também às pessoas que acham erroneamente que ser doida do lado ao contrário significa ser louca: não, eu nunca fui louca!

Ser doida do lado contrário pressupõe dizer “não” a uma série de regras impostas por uma sociedade meio caduca. Pressupõe querer viver a vida, e não passar por ela de maneira incógnita, e nem sair dela de forma ilesa: há arranhões, marcas, cicatrizes muitas.

Um dia minha tia disse que era minha amiga. Não entendi direito à época o que aquilo queria dizer. Acho que ela quis dizer que ser minha tia era uma situação inevitável, um fato sobre o qual ela não tinha controle, a vida nos fez assim com esse título, esse rótulo. Mas ser amiga não, era uma escolha dela, da vontade exclusiva dela. Acho que eu achei que ela quis dizer que eu era de certa forma especial. Me segurei a isso algumas vezes quando eu fiquei triste.

Acho que quando ela disse que era minha amiga, ela quis dizer que seria a única pessoa a me dar um abraço quando eu chorei um dia. Quando se abraça alguém que chora, parece-me que a pessoa mergulha um pouco na sua lágrima, leva consigo, naquele abraço, algumas poças, ou ajuda a estancar o olho que sangra.

Um dia minha tia disse que eu era adorável quando criança. Adorável, eu sei, até ficar doida... doida do lado contrário: as doidas do lado contrário nunca podem ser adoráveis, a elas está reservado o degredo.

Um dia minha tia resolveu dizer um não. As doidas do lado certo nunca dizem não, elas aceitam suas vidas medíocres: sua sandice não atravessa janelas. Acho que ela ficou com um pouco de inveja de mim. Resolveu ser um pouco doida do lado contrário, disse não dizendo sim a si, à sua vida, aos seus desejos, ao amor! Dizendo não a certas convenções, costumes, ideologias. Só às doidas do lado contrário é reservado o direito de viver intensamente. Deve ter gostado da ideia, de ser esse lado doida e não do outro que lhe era tão familiar.

Foi boa mãe da sua única filha, agora quer ser avó, foi largando assim o posto imposto de tia por ter obrigações mais nobres – sábia ela! que um dia fez a escolha volitiva de não ser tia, de ser a doida do lado certo, amiga da doida do lado contrário, e às vezes... vice-versa.


Eu que às vezes tenho de ser uma doida do lado bem certo por força da ocasião, por causa da minha tia escolhi nunca ser “normal”, ou “não doida” como queiram, de nenhum lado: nem do certo, nem do contrário. Mas ela me ensinou também a não ser doida do lado errado... nem doida só. E assim eu escolhi.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Para quem ontem veio bater à minha porta....

Soneto ao suspiro (ou senha espião)

Olho pela janela e ouço o vento
Respiro e espio mas não me contento,
Me pergunto: - se não me apeteces,
Por que, então, meu Deus, sempre apareces?

Nem me lembrava, nem te esperava
Eu só orava, e só pedia, e implorava
Até que numa tarde abençoada
Surges-me à porta, despreparada

Quando pedia aos céus sinal qualquer
Que indicasse uma direção sequer
Tocas em duplo toque à cabeceira
Mensagem noturna derradeira, ora!

Se me desdenhas, se já me esqueces,
Por que, então, meu Deus, sempre apareces?


segunda-feira, 10 de março de 2014

Um novo autorretrato

Quatro anos atrás, postei um soneto que achava que me representava até ali...

Hoje já tenho outro, que ora posto....


Adágio
(ou Soneto em Rallentando)

Não se negou a corroborar com a loucura
Pois que o seu corpo, já exausto da Procura,
Por vezes há deitado em leitos de Procustos,
Mas andou ainda em busca da Cidade dos Justos

Por outros sonhos se embrenhou por entre a senda
Onde ecoou em voz clara para que se entenda
Um cuco em primeiro pio esparso! Primavera.
Tal Palavra precisa. Incisiva. (ou quimera)

Que assim se lhe espalhou feito uma essência airosa
Lhe horizontou o olhar adiante o caminho
Vislumbrando o jardim (apesar do espinho)

A saber, ante ao rosal, escolher a Rosa
Qual brisa de borboleta a colher narciso
Em tempo lento, leve, e preciso. Preciso.

(Laura Santos)

quarta-feira, 5 de março de 2014

Musette


(Ou: Soneto de melodia simples, com baixos insistentes)

O interlúdio lúdico de jograis,
Espasmos cadenciados... e stacattos.
Consonantes (coloridos!) madrigais.
Trechos inacidentados: bequadros.

Progride a mediantes (mas não sensíveis)
Acorde d’um cravo (des)temperado
(são notas muitas, incomensuráveis)
Que, de abrupto, se vê assim pausado.

Mas valeu nossa singela musette
(que nos precede ao adiamento cromático).
E feito a música é o sutil átimo,

Que em horas belas antecede e sucede
longos silêncios, a ausência (que irônico)
É a tônica comum do nosso encontro.

(a T. M. A. 04/02/2014)