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quarta-feira, 7 de maio de 2014

De por que o nascimento dos meus filhos não me fez uma pessoa feliz

De por que o nascimento dos meus filhos não me fez uma pessoa feliz

Calma! Antes de chamar a promotoria da infância e da juventude, eu lhe convido a ler o texto até o final.

Quando o Arthur, meu primeiro filho, nasceu foi tudo muito confuso: entrei em trabalho de parto sem dilatação, o Arthur estava em sofrimento fetal e eu tive uma cesárea de emergência. Quando ele nasceu, eu me senti agradecida por ter dado tudo certo, alegre por ele ter nascido, contente em ver sua carinha amassada. Mas não necessariamente feliz – no sentido lato da palavra.

Com os gêmeos foi ainda pior! Além de agradecida e alegre, eu senti um imenso alívio! Tenho certeza de que quem teve gêmeos e foi até o nono mês de gestação (sim! meus gêmeos nasceram de 37 semanas!) sabe bem o que eu quero dizer. Mas sentir “alívio” com o nascimento dos filhos não é uma coisa bonita de se falar, não é politicamente correto.

O nascimento dos meus filhos não inaugurou em mim uma mãe. A mãe na qual venho me transformando ao longo dos anos começou a ser gerada bem antes dos meus filhos, quando ainda bem jovem queria ter muitos deles, uma casa cheia, e agora, como mãe, continuo a recrudescer.

E ter filhos também não me transformou em uma pessoa plena. Sou uma pessoa plena sim, pois tenho uma vida plena, realizo projetos, faço coisas interessantes e tenho filhos, também. Não irei nunca impingir-lhes o motivo exclusivo da minha felicidade, ou a culpa pela minha possível infelicidade. Meus filhos são parte integrante da minha plenitude, mas não a encapsulam – a vida me foi sempre muito muito generosa em vários aspectos, não serei-lhe mal-agradecida.

Como mãe, não sou uma heroína, não sou uma guerreira, mesmo por que não acho que criar filhos seja uma guerra em que haja heróis, nem guerreiros. Não há inimigos a vencer. Não acho que a maternidade seja uma luta, um problema, a abdicação integral da vida, um martírio. Acho que eu faço o que têm feito as mães ao longo de 10.000 anos de humanidade moderna na terra. Nem mais. Nem menos. Talvez o faça idiossincraticamente, mas sem grandes méritos ou deméritos.

Meus filhos não me consideram, nem me considerarão, uma santa, uma batalhadora. Não sou mártir, se tivesse apenas um pedaço de pão, não dividiria em três e daria aos meus filhos, dividiria em quatro, e comeríamos juntos: não posso me dar ao direito de recusar meu quarto, sei a falta que eu faria a eles se eu não estivesse forte e inteira.

Quando eu estou triste, às vezes choro, e não lhes escondo minhas lágrimas. Eles me perguntam: “Mamãe você está chorando?” E eu digo: “Sim, filho, estou um pouco triste neste momento, não tem a ver com você, logo estarei bem.” Às vezes eu explico o porquê, às vezes eu digo que não quero falar sobre o assunto naquele momento, para que eles aprendam que também podem se dar ao direito de chorar, de sofrer, e nem sempre a gente está preparado para falar sobre isso.

Eu sou ser humano.

E se às vezes eu erro na educação deles, eu não erro porque “estava tentando acertar” como a maioria das mães por aí... Eu erro porque sou ser humano! E erro muito! Ou erro porque não estudei o bastante.

Ao contrário do que muitos dizem, eu acho que filho vem com manual sim! Claro que não vem colado na caixa, feito jogo de tabuleiro, mas está disponível a todos a filogênese da evolução humana em termos de criação de filhos em suas mais diversas formas, e seus eventuais desdobramentos: para o bem ou para o mal. Basta buscar nos lugares certos. Eu, como cientista que sou, sempre gosto de uma boa e bem fundamentada teoria.

Mas como disse, filhos para mim não são uma batalha! Eu nunca padeci no paraíso, como diz o velho dito.

Eu vivo, aproveito e me delicio no paraíso de ser mãe. E não posso ser condenada por isso. Se decidi ser Maria, e não Marta, e escolhi a melhor parte (como bem diz a parábola da bíblia) essa não poderá me ser tirada.

A convivência diária e diuturna com aquelas três crianças adoráveis, aqueles três seres humanos incríveis, ao longo desses anos faz-me, sim, feliz. Muito feliz!

Claro que me lembro com alegria de quando eram bebês, aquele cheirinho, aquelas gracinhas, o fabuloso processo de aprendizagem de ser gente. Mas não concordo quando dizem “que saudades!” ou “que pena que crescem!” O crescer é o mais incrível de ser mãe. Ter o imenso privilégio de conviver com eles por tanto tempo, participar com papel de tanta importância na vida desses meninos!

O Arthur com sua justeza assombrosa, sua lealdade e sua grande imaginatividade; o Raul com sua fantástica capacidade de agregar pessoas, se relacionar com elas, um grande negociador; a Lisa, como diz minha mãe, “se não existisse, tinha de ser inventada”, tão prestativa, artística e carinhosa.

Espantoso como são versões tão melhoradas da minha pessoa, em todos os possíveis aspectos.

O prazer de vê-los crescer, conviver com eles, conversar com eles, saber a opinião deles sobre as coisas, brincar com eles: isso é o que me faz feliz.

Ver que estão se tornando seres cada vez mais admiráveis e lindos por fora, e mais por dentro. Saber que os amo mais (como se fosse possível amá-los mais que hoje), os amo mais a cada dia porque os conheço de fato. Isso é o que me faz feliz. Mais feliz!

Lembro-me do Arthur ainda pequenininho, com uns dois anos talvez, num dia em que o colocava para dormir depois de lhe contar uma história, eu disse:

- Tur, meu filho, eu te amo tanto! Você é um grande presente na minha vida!

Ao que ele responde, do alto da sua sabedoria:

- Presente, mamãe? Abre! Abre!

Eu abro, filho, todos os dias. Cada dia eu abro três embrulhos maiores, melhores e mais lindos!


Ass: a mãe do Arthur, do Raul e da Lisa.