Dona Zita e os
presentes mais caros
Dedicado, com um
abraço saudoso, aos meus queridos amigos
Gracinha, Rosane e
Emílio.
Fazer
brigadeiro lá em casa é mais ou menos como fazer felicidade no microondas!
É só o
cheirinho se espalhar pela casa, e já três carinhas felizes (e gulosas)
aparecem ansiosas para provar – para criança, alegria
E, toda vez
que eu faço brigadeiro, eu me lembro da Dona Zita.
Dona Zita
nunca me fez brigadeiro, mas me deu a vasilha, na qual eu faço a guloseima, de
presente de casamento.
Dona Zita
era a vizinha da minha avó e, quando eu era criança, passava boa parte da minha
vida no quintal da casa dela, brincando com sua filha (que me chamava – com o
olhar – por sobre o muro):
- Vó, posso brincar com a Gracinha? – vovó quase sempre deixava.
Naquela
casa não tinha o cheiro do brigadeiro, mas tinha o cheiro da árvore de mexerica
– Gracinha tinha a chave – a chave que abria o portão do quintal da árvore, que
também abria as portas da nossa imaginação.
Naquela
casa tinha um livro de figuras o qual a gente folheava e fingia ser a princesa
mais linda, que morava no castelo mais alto:
-
Eu
sou essa! – resolvia eu.
-
Eu
sou essa! – Gracinha deliberava.
Dona Zita
também me deu uma boneca de papelão, daquelas que a gente recortava a boneca e
as roupinhas. E fazíamos combinações infinitas. Praticamente um curso de moda.
Ali, com aquela boneca de papelão.
Dona Zita
ajudava na igreja, e colocava a gente pra vestir de anjo na coroação em maio –
comecei a cantar assim – primeiro colocando a palma, ano seguinte o véu, e
enfim a coroa, e assim a gente ia subindo os degraus do altar, e da vida.
Engraçado
que já ganhei presentes que custaram muito – roupas diversas, perfumes importados,
e joias. Mas os presentes que Dona Zita ofereceu a mim, com a riqueza que lhe
era peculiar, foram os mais caros: a boneca de roupinhas infinitas, o álbum que
cabia todos os sonhos do mundo, a tigela de fazer felicidade no microondas e… o
cheiro de parte feliz da minha infância.