Conto número três
(ou a verdadeira história da reforma no prédio de Fabiana)
Para se ter uma ideia, o primeiro
encontro com Fabiana nem foi no seu próprio prédio, foi numa sala emprestada de
alguém, de quem nem se lembra mais. Ali nunca mais se voltou.
Quando cheguei ao prédio de
Fabiana achei meio antigo (velho, na verdade) aquele ar soturno, entrada
enclausurada e o porteiro me sorriu um sorriso muito magro:
- Identidade, senhora, vai para
onde?
- Vou ao terceiro, vou ver
Fabiana. Respondi apresentando identidade, CPF, carteira de motorista. Não
tinha talão de cheques, mas se tivesse mostrava.
Reparei a pintura descascada,
aquele piso esfregado, mas com ar de mal lavado. Um elevador estava enguiçado.
Subo então e, no cubículo,
aguardo tentando aprender pelas as revistas da antessala - e se passaram
muitos, muitos tempos. Mas insisti... e
voltei sempre, mesmo sem ser convidada.
Eis que um dia eu chego lá e vejo
um belo estrago! Na entrada, o chão todo arrancado, pedaços de cerâmicas por
todo lado, paredes raspadas, uma pinguelinha de ripa de madeira, elevador não
abria travava, ou então não subia nem fechava. Eu me esgueiro por onde dá, na
passagem difícil, cheia de embaraços.
E não é que tem outro porteiro! Me
barra a entrada novamente, e com ousadia, me solicita, em altos brados:
- Documentos! Senhorita!
Eu prontamente estico os braços, mas
relembro – em voz baixa claro, só pra dentro:
- Eu venho sempre, o outro
porteiro já me conhecia.
Noutro dia e a surpresa!
Piso novinho, lâmpadas claras, o porteiro reinstalado, num lugar bem mais
apropriado. Claro, claro, um ou outro retoque ainda precisa, mas já dá pra se ver
a mudança.
Vendo o hall vazio pergunto ao
porteiro, que já me recebe com um riso largo:
- Cadê o pessoal da obra?
- Já foram embora, voltam amanhã,
só trabalham até às seis.
Eu sorrio de volta.
E penso, não sem certo ar de
superioridade -“engano seu, moço
porteiro!”
Depois das seis, seu
mestre-de-obras e os pedreiros fazem hora-extra! E, pouco a pouco - a
marteladas curtas para assentar tábuas mais largas – quase, quase já terminam a
reforma é lá de casa!
Eu entro. Vou me encontrar com Fabiana! E com cautela (mas firmeza) abro a porta do
elevador, que já desliza, e noto o aviso que diz:
- Cuidado, tinta fresca!