Acabou-se nossa partitura em bequadro: a partir de agora, em nosso andamento, entre constantes bemóis e raros sustenidos, nossas notas serão sempre acidentadas...
Eu??
- Luciana Fiuza / Laura Santos
- Belo Horizonte, MG, Brazil
- Just getting better...
quarta-feira, 26 de março de 2014
sexta-feira, 14 de março de 2014
De quando eu resolvi ser doida do lado contrário…
Um dia
minha tia displicentemente me disse que ela era doida do lado certo e eu, doida do lado contrário.
E foi
assim… eu a doida do lado contrário, e ela a doida do lado certo (pelo menos
antes de lhe abrirem a cabeça com um serrote, espero que tenham-lhe feito
alguma alteração na ocasião).
E a partir
daí eu me assumi assim: ser doida do lado contrário.
Ser uma
doida do lado contrário dói um pouco às vezes, dói também às pessoas que acham
erroneamente que ser doida do lado ao contrário significa ser louca: não, eu
nunca fui louca!
Ser doida
do lado contrário pressupõe dizer “não” a uma série de regras impostas por uma
sociedade meio caduca. Pressupõe querer viver a vida, e não passar por ela de
maneira incógnita, e nem sair dela de forma ilesa: há arranhões, marcas,
cicatrizes muitas.
Um dia
minha tia disse que era minha amiga. Não entendi direito à época o que aquilo
queria dizer. Acho que ela quis dizer que ser minha tia era uma situação
inevitável, um fato sobre o qual ela não tinha controle, a vida nos fez assim
com esse título, esse rótulo. Mas ser amiga não, era uma escolha dela, da
vontade exclusiva dela. Acho que eu achei que ela quis dizer que eu era de
certa forma especial. Me segurei a isso algumas vezes quando eu fiquei triste.
Acho que
quando ela disse que era minha amiga, ela quis dizer que seria a única pessoa a
me dar um abraço quando eu chorei um dia. Quando se abraça alguém que chora,
parece-me que a pessoa mergulha um pouco na sua lágrima, leva consigo, naquele
abraço, algumas poças, ou ajuda a estancar o olho que sangra.
Um dia
minha tia disse que eu era adorável quando criança. Adorável, eu sei, até ficar
doida... doida do lado contrário: as doidas do lado contrário nunca podem ser
adoráveis, a elas está reservado o degredo.
Um dia
minha tia resolveu dizer um não. As doidas do lado certo nunca dizem não, elas
aceitam suas vidas medíocres: sua sandice não atravessa janelas. Acho que ela
ficou com um pouco de inveja de mim. Resolveu ser um pouco doida do lado
contrário, disse não dizendo sim a si, à sua vida, aos seus desejos, ao amor!
Dizendo não a certas convenções, costumes, ideologias. Só às doidas do lado
contrário é reservado o direito de viver intensamente. Deve ter gostado da
ideia, de ser esse lado doida e não do outro que lhe era tão familiar.
Foi boa mãe
da sua única filha, agora quer ser avó, foi largando assim o posto imposto de
tia por ter obrigações mais nobres – sábia ela! que um dia fez a escolha
volitiva de não ser tia, de ser a doida do lado certo, amiga da doida do lado
contrário, e às vezes... vice-versa.
Eu que às
vezes tenho de ser uma doida do lado bem certo por força da ocasião, por causa
da minha tia escolhi nunca ser “normal”, ou “não doida” como queiram, de nenhum
lado: nem do certo, nem do contrário. Mas ela me ensinou também a não ser doida
do lado errado... nem doida só. E assim eu escolhi.
quarta-feira, 12 de março de 2014
Para quem ontem veio bater à minha porta....
Soneto ao suspiro (ou senha espião)
Olho pela
janela e ouço o vento
Respiro e
espio mas não me contento,
Me pergunto: -
se não me apeteces,
Por que,
então, meu Deus, sempre apareces?
Nem me
lembrava, nem te esperava
Eu só orava, e
só pedia, e implorava
Até que numa
tarde abençoada
Surges-me à
porta, despreparada
Quando pedia
aos céus sinal qualquer
Que indicasse
uma direção sequer
Tocas em duplo
toque à cabeceira
Mensagem
noturna derradeira, ora!
Se me
desdenhas, se já me esqueces,
Por que, então, meu
Deus, sempre apareces?
segunda-feira, 10 de março de 2014
Um novo autorretrato
Quatro anos atrás, postei um soneto que achava que me representava até ali...
Hoje já tenho outro, que ora posto....
Adágio
A saber, ante ao rosal, escolher a Rosa
Hoje já tenho outro, que ora posto....
Adágio
(ou
Soneto em Rallentando)
Não se negou a corroborar com a loucura
Pois que o seu corpo, já exausto da
Procura,
Por vezes há deitado em leitos de
Procustos,
Mas andou ainda em busca da Cidade dos
Justos
Por outros sonhos se embrenhou por entre a
senda
Onde ecoou em voz clara para que se entenda
Um cuco em primeiro pio esparso! Primavera.
Tal Palavra precisa. Incisiva. (ou quimera)
Que assim se lhe espalhou feito uma essência
airosa
Lhe horizontou o olhar adiante o caminho
Vislumbrando o jardim (apesar do espinho)
A saber, ante ao rosal, escolher a Rosa
Qual brisa de borboleta a colher narciso
Em tempo lento, leve, e preciso. Preciso.
(Laura Santos)
quarta-feira, 5 de março de 2014
Musette
(Ou: Soneto
de melodia simples, com baixos insistentes)
O interlúdio
lúdico de jograis,
Espasmos
cadenciados... e stacattos.
Consonantes
(coloridos!) madrigais.
Trechos
inacidentados: bequadros.
Progride a
mediantes (mas não sensíveis)
Acorde d’um
cravo (des)temperado
(são notas
muitas, incomensuráveis)
Mas valeu
nossa singela musette
(que nos
precede ao adiamento cromático).
E feito a música
é o sutil átimo,
Que em horas
belas antecede e sucede
longos silêncios, a ausência (que irônico)
É a tônica
comum do nosso encontro.
(a T. M. A. 04/02/2014)
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